Nós somos o que digerimos

 

No Ayurveda, aquela famosa frase "Nós somos o que comemos" pode ser parcialmente correta. Muitas vezes algumas pessoas que até constroem hábitos alimentares saudáveis passam por problemas de saúde. Portanto, não basta nos alimentarmos bem, sermos vegetarianos ou comermos produtos orgânicos. Mas, por quê?
Porque existe uma interação entre o alimento e nosso organismo que passa pelo processo da digestão. Nós somos o que nosso corpo é capaz de digerir adequadamente. O que não digerimos se transforma em intoxicação e consequentemente em adoecimento. Uma digestão completa envolve a capacidade de processar alimentos, água, ar, percepções, sensações, sentimentos e pensamentos de forma adequada.
Para a digestão acontecer de forma harmoniosa, algumas dicas ayurvedicas são importantes:


• Precisamos cuidar de nosso agni (fogo digestivo). Algumas ervas são indicadas para ingestão antes e até após as refeições de acordo com o biotipo de cada um. A ingestão de chás digestivos ou de sementes de erva-doce após as refeições pode ser utilizada pelos três biotipos (doshas).
• Nossa dieta é uma parte essencial de nossas vidas. Nós recebemos firmeza, força de vida e imunidade através da comida que comemos. Ela nutre o corpo e a mente. Não deve ser colocada em segundo plano, em horários irregulares ou descuidarmos do que estamos comendo, pois isso gera alterações no funcionamento geral do organismo.
• Comer não é somente um ato físico, deve ser uma ação consciente. Quando estamos comendo devemos apenas nos concentrar em comer! Devemos alimentar também uma atmosfera de tranquilidade no momento das refeições, para não comermos raiva, preocupações, culpa ou informações desnecessárias que poderão fazer parte do que estamos ingerindo naquele instante.
• Cada um deve se alimentar de acordo com a sua própria constituição. Aquele alimento que é bom para um determinado biotipo muitas vezes pode ser um veneno para outra pessoa. Para isso o Ayurveda se baseia nos atributos da matéria (gunas), nos sabores (rasa) e efeitos pós-digestivos (prabhava) de cada alimento. Por exemplo, uma pessoa do biotipo Kapha deve ingerir alimentos quentes, leves, pouco oleosos, de sabor picante, amargo e adstringente.
• Mudanças apropriadas na dieta devem ser feitas de acordo com a idade, ocupação, estação do ano e ambiente em que cada pessoa vive.
• As necessidades nutricionais são diferentes em diferentes fases da vida como a adolescência, a menstruação, a gravidez, período de amamentação, etc. como também em diferentes momentos da vida. Devemos estar atentos à estes momentos para escolha dos alimentos que mais estão de acordo com todas estas alterações.
• Para uma digestão adequada do ar, devemos, na medida do possível, buscar ambientes em contato com a natureza, aonde a qualidade do ar é melhor e realizar exercícios de respiração regularmente.
• A digestão das sensações e sentimentos é favorecida pelo trabalho pessoal de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal constante e consistente. Quando cuidamos das nossas emoções de forma que estas sejam elaboradas e expressas de forma consciente não estaremos acumulando toxinas emocionais que geram mágoas, ressentimentos e doenças psicossomáticas.
• Para digestão dos pensamentos que povoam as nossas mentes, devemos selecionar as informações que ouvimos e assistimos, evitando assistir notícias sensacionalistas, informações desnecessárias para nossa vida. Além disso, a prática de meditação é muito eficaz para reduzir o fluxo contínuo de pensamentos que prejudicam uma vida mental sadia.


Vivendo desta forma conseguimos realmente absorver o que a vida nos traz de positivo e construimos um ambiente interno e externo mais equilibrado.